segunda-feira, 22 de julho de 2013

Xamanismo e a Noção do Sagrado.



Xamanismo

Em seus trabalhos acadêmicos, Mircea Eliade estudou o Xamanismo em dois livros: "Xamanismo: técnicas arcaicas de êxtase" - um levantamento de práticas xamânicas em diferentes áreas; e "Mitos, Sonhos e Mistérios" onde também aborda o Xamanismo em algum detalhe.

No livro Xamanismo, Eliade defende um uso restrito da palavra xamã: 
ela não pode ser aplicada à todos os magos ou homens-medicina, o que tornaria o termo redundante. 

Ao mesmo tempo, ele argumenta ser contra restringir o termo aos praticantes do sagrado da Sibéria e Ásia Central (que é de um dos títulos para essa função, ou seja, 'Saman', considerado por Eliade ser de origem Tungusic, termo próprio que foi introduzido nas línguas ocidentais). 

Eliade define um xamã da seguinte forma:

"acreditam que ele pode curar, como todos os médicos, e realizar milagres do tipo faquir, como todos os magos [...] Mas, além disso, ele é um psychopomp (mensageiro entre vivos e mortos), e ele também pode ser um sacerdote, um místico e um poeta."

Se definirmos o Xamanismo desta forma, defende Eliade, descobrimos que o termo abrange um vasto conjunto de fenômenos que compartilham uma mesma "estrutura" e "história" únicas. 

Quando assim definido, o Xamanismo tende a ocorrer em suas formas mais puras nas sociedades pastorais e de caçadores, como as da Sibéria e Ásia Central, que reverenciam um elevado Deus celestial  "à caminho de se tornar um deus otiosus". Eliade considera o xamanismo destas regiões como o seu exemplo mais representativo.

Em suas análises do Xamanismo, Eliade enfatiza a capacidade do xamã de recuperar a condição que o homem tinha antes da "queda" do tempo sagrado: 
"O Xamanismo, a experiência mística mais representativa das sociedades arcaicas, indica a Nostalgia do Paraíso, o desejo de recuperar o estado de liberdade e beatitude que havia antes de 'queda da humanidade' ". 

Esta preocupação, que, por si só, é a preocupação de quase todos os comportamentos religiosos, de acordo com Eliade, se manifesta de maneiras específicas no Xamanismo.


MORTE, RESSURREIÇÃO E FUNÇÕES SECUNDÁRIAS

De acordo com Eliade, um dos temas mais comuns no Xamanismo é suposta morte e ressurreição do xamã. Isto ocorre, especialmente, durante a sua iniciação. 

Muitas vezes, o procedimento deve ser realizado por espíritos que desmembram o xamã e retiram a carne de seus ossos. Em seguida, colocam tudo de volta e o reanimam. De várias formas, esta morte e ressurreição representam a elevação do xamã acima da natureza humana.

Primeiro, o xamã morre para que ele possa elevar-se acima da natureza humana, em um nível bastante literal. 

Depois que ele foi desmembrado pelos espíritos iniciáticos, estes, muitas vezes, substituem seus antigos órgãos por órgãos novos e mágicos. 

O antigo eu profano do xamã morre, para que ele possa ascender novamente, como um ser novo e santificado.

 Em segundo lugar, ao ser reduzido a ossos, o xamã experimenta o renascimento em um nível mais simbólico: 
em muitas sociedades de caça e pastoreio, o osso representa a fonte da vida, e a sua redução a um esqueleto 

"é o equivalente a re-entrar no útero da vida primordial, ou seja, atingir uma renovação completa, um renascimento místico completo". 

Eliade considera que este retorno à fonte da vida equivale, essencialmente, ao eterno retorno buscado por várias religiões.

Em terceiro lugar, o repetido fenômeno da morte e ressurreição do xamã também representa uma transfiguração de outras formas.

O xamã morre não uma, mas muitas vezes. Tendo morrido durante sua iniciação e ressuscitado com novos poderes, o xamã pode enviar seu espírito para fora do corpo durante missões. 
Assim, toda a sua carreira consiste em várias mortes e ressurreições sucessivas. 

A nova habilidade do xamã de morrer e voltar à vida mostra que ele não está mais sujeito às leis do tempo profano, em particular a lei da morte: 
"a capacidade de "morrer" e voltar à vida [...] denota que [o xamã] superou a condição humana".

Tendo se elevado acima da condição humana, o xamã não está mais vinculado ao fluxo da história mundana. 

Por isso, ele desfruta das habilidades que a humanidade tinha antes da sua queda, na idade mítica. 
Em muitos mitos, os seres humanos podem falar com os animais, e, depois de suas iniciações, muitos xamãs afirmam ser capazes de se comunicar com os animais. 

De acordo com Eliade, esta é uma manifestação do retorno do xamã aos "illud tempus" descritos nos mitos paradisíacos".

O xamã pode descer ao submundo ou ascender ao céu, muitas vezes escalando a Árvore do Mundo, o pilar cósmico, a escada sagrada, ou alguma outra forma de Axis Mundi.

 Muitas vezes, o xamã sobe ao céu para falar com o Altíssimo Deus. Porque os deuses (particularmente o Alto Deus, segundo o deus conceito de deus otiosus de Eliade) estavam mais próximos dos seres humanos durante a idade mítica, a fácil comunicação do xamã com o Alto Deus representa uma abolição da história mundana e um retorno à idade mítica.

Por sua capacidade de se comunicar com os deuses e descer à terra dos mortos, o xamã freqüentemente funciona como um psychopomp (mensageiro entre vivos e mortos) e um homem de medicina.

Extraído de:http://pt.wikipedia.org/wiki/Mircea_Eliade
 tradução de Alex.



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