"O Brasil é o único país do mundo onde o amálgama racial se fez sem
grande restrições.
Considerado durante muito tempo pelos colonizadores como local de
estadia temporária, em seu ambiente todas as situações eram admissíveis e uma forma de
tolerância desenvolveu-se, se bem que, em bases negativas.
O homem branco estabeleceu relações estreitas com o negro, inclusive de cruzamento racial,
e, longe da metrópole, tais fatos eram acontecimentos normais.
A raça lusitana, se bem que envergando o porte dos senhores, não deixou de transbordar afetividade,
no grau exuberante que lhe é característico, quando encontrou a ingênua dedicação e humildade da mulher cativa. E se o senhor branco, o privilegiado da cor, desceu a esse contato, selou com sua aprovação evidente o anseio de irmanação latente nas almas dos seus irmãos negros e índios.
Iniciou-se assim a formação do Amálgama Racial sobre o qual o tempo se incumbiria
de depositar elementos novos, provenientes de todas as partes do mundo.
As conseqüências de tais ocorrências perduram até hoje na índole despreocupada do
brasileiro, que vive em função do momento que passa, sem fornecer a si mesmo
planejamentos para o futuro, como se sua terra continuasse a ser o Eldorado ao qual nenhuma
cooperação especial devesse ser dada com vista ao porvir.
O europeu responsável pela formação psicológica do que convencionaremos chamar a "raça brasileira", lançou a semente
da conduta desavisada por considerar a terra conquistada local onde "nada criaria raízes".
As duas raças que se lhe associaram foram incapazes de ultrapassar ou liderar os raciocínios do
homem branco e seguiram-lhe docemente as pegadas.
Mais do que o atavismo racial, influiu
na formação da alma brasileira a atitude psicológica do líder da sociedade nascente, o europeu
displicente e ganancioso, que em sua terra era cristão e respeitável, mas que no Brasil só via
uma fonte inesgotável de lucros e prazeres inconfessáveis.
Essa distorção psicológica produziu uma atmosfera de displicência em relação aos valores morais e cívicos a impregnar todo
jovem ser que surgia.
Nos primeiros anos de sua existência alimentava-se na formação de
valores espirituais negativos e via tudo o que o cercava com a ânsia de auferir vantagens, num
esquecimento absoluto das noções de disciplina, trabalho e previsão, relacionadas com o
engrandecimento da nacionalidade."
"Realmente prejudicial ao brasileiro, repetimos, vem sendo, desde os primórdios da
formação de seu povo, a aura de irresponsabilidade moral aqui implantada pelos iniciadores
da civilização na Terra de Santa Cruz.
Podemos lançar mão de uma imagem simples, a fim de aclarar os conceitos emitidos.
O aluvião de deturpações morais, que procura arrastar consigo os valores positivos
pertencentes ao povo em formação nessa terra acolhedora, é alimentado como um rio, por
duas nascentes.
A primeira brota na montanha dos sentimentos elevados e constitui a água
abençoada das vibrações fraternas.
Simboliza essa "fluidez patriótica" a que nos referimos.
É generosa e pura, a todos beneficia, mantendo-se líquida por saber que a água solidificada, em
sua rigidez, não consegue servir.
Nessa nascente no alto da montanha das verdades espirituais,
onde despontam as mais puras inspirações para a orientação da nacionalidade brasileira, não
há possibilidade de contaminação pelas substâncias ácidas do egocentrismo, camuflado nas
expressões fatigadas do patriotismo exclusivo.
O brasileiro, espiritualmente orientado pela aura de benevolência para com o próximo,
não se apega aos princípios rígidos de um patriotismo míope e egocêntrico. Dentro da sua
alma corre temporariamente, tranqüilo e límpido, o rio da boa-vontade para com o
semelhante, como conseqüência da generosidade com que a vida o brindou nesse recanto
paradisíaco do globo.
A meio caminho, porém, no Planalto Central, na baixada onde poderia esse rio fertilizar o solo em prol de
uma abundante colheita, levanta-se um NEVOEIRO que obscurece o panorama espiritual da
coletividade. Da floresta próxima desliza um caudal de detritos, formados de LAMA barrenta e
viscosa. Sua origem é obscura, pois ninguém jamais ousou chegar até o seu nascedouro.
Enquanto que a primeira nascente brota na montanha da espiritualidade pura, consta que a
segunda surge de um pântano a cujo pestilência ninguém pode resistir.
E assim a tradição se incumbe de divulgar o mito apavorante da força insuperável do
poder corruptor.
Os espíritos pouco valorosos de uma alma coletiva, em fase de adolescência
espiritual, conservam-se à distância da floresta assustadora, suportam-lhe a enxurrada de
detritos e, coagidos por um terror supersticioso, rendem homenagem involuntária aos
princípios implantados pela força do negativismo.
Dessa forma, os anseios inconfessáveis dos interesses mesquinhos, deturpam
irremediavelmente os sentimentos patrióticos, que seriam extraordinariamente sadios à Humanidade,
por emanarem de uma Fonte Superior de Grande pureza.
Podemos mesmo afirmar que maior é o
empenho das forças negativas em se aproveitar os benefícios dessa nascente, por identificarem a
potencialidade generosa de sua origem.
No momento em que esse fluxo de águas claras se tornar consciente de suas possibilidades, conseguirá levantar um dique para deter a enxurrada originária da floresta
escura das manobras escusas que turvam a limpidez do leito generoso sobre o qual está destinado a correr, para o Benefício de toda a humanidade."
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